Quarto 28 - SMS enviados de 13 para 14
Neste quarto há:
jovem ruiva de perfil
nódoa negra na perna
cama de novo em cava buquets de linho dois
cadeira vermelha do tipo bispo espírito arredondando
homem só de olhá-la
espelho mochila janela
mão incomparável
sobre a magnólia
úvula
*
Depois desta goiva estou nua. Stop. Vem depressa.
*
Todas as opções presas neste quarto todos os abismos a um centímetro.
Arrumo-os. Visto-me.
*
Ligeti e Aphex Twin lambem-me os pés.
*
[Nos Sapadores, Eurídice]
Não me entres tão depressa nesta noite escura.
[Feltámadunk]
subiremos dos mortos sabendo mais que eles.
1
*
Abusos quentes Adília, um infinito entre nós chama-se gente
— felina
minha musa sista minha monja dada minha vestal acedia minha afinal
Ester neoplatónica em Caneças peleiro onde eu ia menina com a minha avó.
*
Estamos vivos ao mesmo tempo e no mesmo século. Já viste como isso de repente
é certo?
*
Grande ódio à incompletude. Grande ode à tontura.
*
[Golfos]
Bordos de Sophia Loren para te beijar
“braço de mar que entra pela terra dentro e cuja abertura é muito larga.”
* [Classificados]
Morre-se.
Secretamente nas Açoteias.
*
[Notícia geral]
2
Grande festa no bonde capeta. Grei animada levando nos cornos.
*
São rosas, senhor, de plástico. *
p.s. — “Aposto que por baixo dessa cínica pele de butirato há sentimentos.”
*
Escoamento rápido
da minha vontade:
cruz na porta da tabacaria.
*
[Simplex do espírito]
Pela confusão se manifesta pelo intruso fruto se liga
o moribundo ao moribundo o nó cego a quem de fila.
*
[Tonsura do vazio]
Com a minha língua te boleio.
*
Se queres comer bem leva-me à Cova Funda.
*
— O que é que queres dizer com isso? V eremos.
3
*
Vou impressionar-te com os meus modos infantis. Podem salvar-nos a qualquer momento.
*
Afinal Ricardo Reis —mal temos
tempo para assumir
a eternidade do sol—
casaste.
*
Dá-me uma cerveja no bar de Letras precisa-se quórum de estetas adustos.
*
Anda, larga Las Vegas. Está a dar Joy Division.
*
Eu sou a revolução dentro da revolução. A herança de Pedro sobre Inês.
Ass. Caronte
*
Migro Tamisa negro
por dentro de ti enguias escala de Beaufort perfeito se pudesses ver, sentias.
*
4
Com a severidade de um border le lit dedos de mãe na roupa de cama deito-me desmancho-me.
*
E Virgínia, tu
que puxaste o rio todo e falaste em usar
o gatilho a quem caneta e papel, percebe a minha medição
e esta mão dura.
*
O segredo está em manter
as expectativas em Paris. Tenho o teu número anotado umbilical religioso.
*
Piropo heideggeriano: tu
que brilhas no escuro.
*
Sem rima nem metro amor devagarinho. *
Tenho os teus olhos apontados para mim
no fundo há um revólver modelo 605
armas o cão
digo-te
*
Hoje ia-te ao focinho na Rua Anchieta. Embora te falte um dente da frente.
*
Tens uma sanha com os santos populares.
5
Pois tenho, Soror Ignês.
E com palhinhas deitadas também.
*
À V imperial levas o cínico a ver o rio beijas-lhe a testa
e basta.
*
Aumentas-me o peso de ser e que bonito és
deitando sob
a relva.
*
Sonho com Nilos desde miúda hei-de um dia entrar paysagem à sombra disso.
*
Quem falou da morte primeiro foste tu cu de mula, mas airosa que te faço boa: fecha os olhos e abre a boca — aí vai batom rosa e pechisbeque do chino.
*
Pirro, minha louca de pedra
o evento puro de que estás à espera
é a grande chona do poeta tornado leve.
*
Sempre pensei, Zeca, que fosse dentro de teocidade. Eu e as minhas garagens hermenêuticas.
*
Que eu trabalhava com o pensamento
e não com a mão, era cérebro atrapalhando antebraço, ideia vestindo caraça, por aí fora uma confusão tamanha que.
6
* [Artur]
Choras para cima de mim desde Famalicão. Estás preso mordendo entre pedras, dizes não mataste ninguém, digo — aqui
a paisagem a mesma, uns
dançam salsa porque podem outros vêm de muitos sítios mas ninguém
não
*
Poema: em caso de dúvida que se foda. *