"Fronteiras Porosas" - Rula Khoury (cur.) / (un)common ground

Fronteiras Porosas
Fotografia
Mohamed Abusal, Jumana Emil Abboud, Samira Badran, Hanna Qubty e Sharif Waked
Sábado, Janeiro 7, 2023 - 18:00 to Domingo, Fevereiro 26, 2023 - 23:00

"O inabitável: o confinado, o proibido, o enjaulado, o trancado, as paredes eriçadas de cacos e garrafas, os olhos mágicos, as portas blindadas." (Georges Perec, «L’inhabitable», in Espèces d’espaces. Paris, Galilèe, 1974.)

As fronteiras são próprias do «Estado de desapropriação», na prossecução do seu desígnio, depois de terem conquistado o outro, despojando-o da sua cultura, distanciando-o da sua história. Enquanto fronteiras quebram a economia, o corpo social, o «nós», o sentido de pertença, com a sua dupla dimensão de enraizamento e liberdade de circulação. As fronteiras dividem desigualmente «nós» e «eles», «aqui» e «acolá».
Em 1967 [Guerra dos Seis Dias], ocorreu uma profunda transformação para os nativos da terra entre o mar [Mediterrâneo] e o rio [Jordão], com a ocupação da Faixa de Gaza, Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a construção de toda uma série de novas fronteiras.

As vozes dos palestinos, ao contarem as suas próprias histórias, são muitas vezes silenciadas ou tomadas levianamente e sem importância. No entanto, em 1984, Edward Said considerou corretamente:
"Os factos não falam por si mesmos, mas requerem uma narrativa socialmente aceitável para absorvê-los, sustentá-los e colocá-los em circulação. Tal narrativa tem que ter um começo e um fim: no caso palestino, uma pátria para a resolução de seu exílio desde 1948." (Edward Said, «Permission to Narrate», in The London Review of Books, 16.2.1984.)

Do ponto de vista dos despossuídos, a arte é um meio para afirmar a sua presença no espaço. Apesar dos cactos que cobrem as ruínas das casas ou os uniformes verdes dos soldados, condizentes com a paisagem em que o checkpoint está instalado, há uma resistência cultural ao naturalizar desses símbolos. Consequentemente, há a consciência da intenção da cultura dominante em atrair os atributos culturais da cultura nativa, embora negando a sua existência no espaço.

Os artistas desta exposição revelam essa luta. Uma reflexão sobre a condição humana pressionada por agressões físicas e estruturais que restringem e ameaçam a liberdade de movimento e a vida. Cada artista traduz os efeitos dessas fronteiras nos movimentos e nas condições da vida quotidiana, nas suas imagens únicas e vivas, testemunhos da luta pela linguagem e pela identidade de gerações cerceadas por essas fronteiras. Uma narração da passagem do tempo e da resiliência da memória e identidade coletivas. Num tom optimista: água mole em pedra dura tanto bate até que fura.


Fronteiras Porosas

Mohamed Abusal, Jumana Emil Abboud, Samira Badran, Hanna Qubty e Sharif Waked
Curadoria: Rula Khoury
(un)common ground em parceria com Largo Residências

7 Jan. a 26 Fev. 2023
Inauguração - 7 Jan Sáb. 18h
Exposição - Qua. a Dom. 12h às 23h
Hangar, Largo Residências - Quartel do Largo do Cabeço de Bola, Lisboa

(UN)COMMON GROUND
Curadoria: Marlene Monteiro Freitas, João Figueira, Miguel Figueira, Vítor Silva
http://www.unground.pt


Apoios ao Largo Residências

Apoio financeiro
Câmara Municipal de Lisboa - RAAML (Regulamento de Atribuição de Apoios pelo Município de Lisboa)

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